R,
tem 10 anos, menino, criado em um ambiente totalmente feminino, único homem da
casa, cheio daqueles questionamentos de um menino de 10 anos. Está vendo a
greve pela tv, já nasceu numa família
com certo poder aquisitivo, carro próprio, idas costumeiras ao shopping, alguns
gostos classes média concedidos com sucesso.
Porém
aluno de escola pública, morador de periferia, negro, está sendo educado para não deixar nunca o documento em casa e não fazer movimentos bruscos (sim
educar uma criança negra é também explicar racismo ). Viu a greve pela TV, ouviu dizer que talvez os
militares tomem o poder, não entende o que significa ditadura, mas sabe que
não é bom.
Estou
na varanda, colocando as roupas no varal, ele me cerca, com cuidado me pergunta
se eu acho se isso é realmente verdade. Se a polícia vai começar a cercar as
pessoas na rua. Pergunto se ele pensa em como isso afeta ou muda a vida dele,
ele diz que não muda nada porque é uma
criança. Mas que isso é ruim. Porque nos filmes, de heróis quando as pessoas
malvadas tomam o poder, fica tudo ruim. Explico que não vai ser assim, que tem a ONU, que eles
não deixam isso acontecer. Ele não
sabe o que significa ONU, claro né. Então lembro de quando
assistimos Pantera Negra, digo que é como quando todos os chefes das tribos se
reúnem pra decidir juntos sobre uma coisa. Digo que a Onu tem chefes de todas
as tribos e que eles podem se reunir, como no filme. Ele parece entender. Se
distrai com outra coisa e me deixa em
paz.
Mais
tarde quando a mãe dele chega em casa, ele pede ajuda para uma tarefa de arte ,
precisa escrever sobre um artista , Vik Muniz, a mãe não se
interessa muito, está cansada do
trabalho, compreensível, resolvo ajudar, porque gosto do artista e do trabalho, mostro o
documentário no YouTube pelo celular, ele reclama – mais de 1 hora de filme!!!,
digo que não precisamos ver tudo, só as mais importantes e vou explicando, ele
concorda. Começamos.
R. Fica
paralisado com tudo, passa a próxima
hora atônito. Atento. Não percebe
que não pulo nenhuma parte. Assiste
tudo. Fica primeiro assustado com as
pessoas no lixo, ele não achava que isso
era mesmo possível. Depois fica impressionado
em como é possível ainda sorrir na miséria total. Depois descobre que tudo que é ruim, sempre piora e no final quando Tião
consegue no leilão em um museu vender seu quadro, vem a redenção. O final feliz
secretamente desejado pelo menino que acredita em heróis.
É um trabalho de escola, é para escrever sobre a arte, é para mostrar
aos alunos todas as possibilidades de um artistas. Mas vai além, trás um alento
pro coração, faz a gente acreditar que são
as crianças de hoje que vão nos curar e que estão apesar de, nos mostrando
o quanto a vida ainda pode ser extraordinária.(créditos de Macabéa)
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